Garbage in, Garbage out — ou “lixo entra, lixo sai” — é um velho princípio da computação que ganha novos significados na era da Inteligência Artificial (IA).
Na era dos modelos de linguagem, como ChatGPT, Gemini, Perplexity ou Claude, esse conceito se tornou ainda mais relevante. Essas ferramentas, por mais sofisticadas que sejam, dependem da qualidade dos inputs, ou seja, da informação que recebem como entrada, para gerar boas respostas. Portanto, a inteligência da máquina começa na inteligência da pergunta.
Isso nos leva à Engenharia de Prompt, um novo campo de estudo — para muitos, uma nova profissão — que trata de como se comunicar textualmente de forma eficaz com sistemas de IA. Nesse contexto, o prompt é o comando, ou seja, uma pergunta que você digita para interagir com essas tecnologias. Se essa pergunta é mal formulada — seja por falta de clareza, contexto ou vocabulário — a resposta será também ruim. Portanto, não basta saber usar a tecnologia, é preciso saber usar as palavras.
Isso exige habilidades que vão além do domínio técnico. Quem não desenvolve a capacidade de se expressar bem, principalmente de forma escrita, estará em desvantagem na era da IA, afinal, estamos falando com máquinas que não “adivinham” intenções — elas interpretam texto com base na linguagem, no contexto e no significado que conseguimos transmitir.
Quem não desenvolve a capacidade de se expressar bem, principalmente de forma escrita, estará em desvantagem na era da IA, afinal, estamos falando com máquinas que não “adivinham” intenções — elas interpretam texto com base na linguagem, no contexto e no significado que conseguimos transmitir.
J. L. Gregório
Do ponto de vista educacional, isso representa um novo e grandioso desafio: a alfabetização digital do futuro passa pela habilidade de saber elaborar perguntas, de formular problemas e de estruturar ideias com precisão textual.
Não se trata apenas de aprender a operar sistemas e aplicativos, mas de aprender a pensar e se comunicar com clareza. Caso contrário, estaremos diante de uma nova forma de analfabetismo: a pessoa lê, escreve e até se comunica com humanos, mas não consegue dialogar com as máquinas.
Esse seria um analfabetismo silencioso, porém profundo, que pode limitar oportunidades no mercado de trabalho, na educação e na vida cotidiana. Sim, comunicar-se com as máquinas é imprescindível para a sobrevivência profissional.
Apesar de algumas previsões apocalípticas, que dizem que a IA irá substituir o ser humano, eu penso um pouco diferente. Penso que um profissional com IA certamente irá substituir um profissional sem IA.
Nesse contexto, muito se fala emaugmentedwork — ou trabalho aumentado — que é usar tecnologias de IA para potencializar os talentos e as habilidades dos profissionais. Há muitas empresas falando em usar a força de trabalho aumentada como vantagem competitiva.
Por isso, investir em letramento digital, comunicação e competência linguística é urgente. Aprender a usar IA começa por aprender a elaborar perguntas, ricas em contexto, vocabulário, significado e detalhes. Caso contrário, reforçando o que se dizia no passado, se num computador entra lixo… sai lixo.
Artigo publicado originalmente na coluna Fatecnologia, do Jornal “A Tribuna”, no dia 04/05/2025
Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!