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A tecnologia que gera bolhas de ignorância.

A tecnologia que gera bolhas de ignorância.

Com o advento da web, no contexto dos negócios, as empresas perceberam que marcar presença na rede mundial de computadores deveria ser muito mais do que manter um site estático e atualizado semanal ou quinzenalmente. Era necessário interagir com o cliente, se movimentar nas redes sociais, focar a criação de conteúdo exclusivo direcionado a um público específico, monitorar o que as pessoas estavam falando sobre sua marca e, principalmente, mapear o comportamento do usuário a fim de sugerir o que ele deveria consumir. Bill Gross, fundador da icônica empresa IdeaLab, foi o primeiro a perceber, ainda no final dos anos 1990, que quando eu pesquiso por um termo nas ferramentas de busca, por exemplo, “Banda Queen”, estou dizendo resumidamente que tenho algum tipo de interesse na emblemática banda britânica que marcou época com a voz do lendário vocalista Freddie Mercury. Pegue essa informação e junte com as demais buscas que eu realizei sobre música e outras bandas e podemos entender que sou um fã de música. Essa informação é de extrema importância para a indústria do entretenimento, assim, as ferramentas de busca, redes sociais e outros aplicativos podem usá-la para me sugerir conteúdos e produtos relacionados à minha preferência ou ao meu perfil.

Apoiado nas ideias de Bill Gross, a Google, com o seu buscador homônimo, se tornou uma das maiores empresas da era da internet, vendendo publicidade baseada no comportamento dos usuários, um excelente negócio para as empresas que querem vender na web. O problema dessa abordagem para nós usuários da rede é a falsa sensação de liberdade, visto que, na verdade, não temos liberdade de escolha, isto é, consumimos apenas o que nos é recomendado pelo “filtro de conteúdo”, assim, estamos presos em uma bolha. Quando consumimos apenas conteúdos de nossa preferência e, no contexto intelectual e ideológico, nos relacionamos na rede apenas com pessoas que possuem a mesma opinião que a nossa e não temos interesse em explorar outros pontos de vista e conhecer outras ideias, estamos presos em uma bolha social, o que nos torna ignorantes para todos os temas que estão fora do nosso universo.

Passamos por um momento complicado na política e na economia, o que tem despertado em muitos o interesse de saber mais sobre nosso sistema político e sobre economia. Além desses, há os que militam fervorosamente a favor de uma ideia. É muito comum vermos no Facebook usuários e páginas que defendem posições ideológicas, políticas e religiosas com assertividade e com ares de exclusivismo, isto é, possuem certeza de que sua posição é a verdadeira, apoiados na maioria das vezes por argumentos “wikipedianos”, visto que são poucos os que realmente leem livros e artigos sobre as diversas correntes de pensamento a respeito de um tema específico. Se sou de direita, corto os relacionamentos com quem mantém posições à esquerda e consumo apenas conteúdos que reforcem minha verdade, e vice-versa.

O perigo de ficarmos presos em uma bolha é a limitação do pensamento, assim deixamos de ser críticos com as nossas convicções, matamos nossa criatividade e alimentamos preconceitos, gerando ainda mais divisões em uma sociedade já dividida por diversos fatores históricos e sociais. Claro, todos nós possuímos valores, crenças e convicções, mas isso não pode nos impedir de entender e respeitar outros pontos de vista, isso é empatia. Para nos livrarmos da bolha imposta pelo filtro de conteúdo da web, é necessário sempre estar em contato com coisas novas, principalmente as que contradizem nossas convicções. Marx ou Mises? Socialismo ou capitalismo? Biscoito ou bolacha? Marvel ou DC? Não importa, mas não podemos deixar que a tecnologia limite nosso pensamento, afinal de contas, ela pode (e deve) ser uma ferramenta capaz de ampliar nossos horizontes, em todos os contextos possíveis.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 20 de agosto de 2017.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!