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Tecnologias que ainda existem, mas não fazem mais sentido (Parte 2)

Tecnologias que ainda existem, mas não fazem mais sentido (Parte 2)

Dando continuidade ao texto homônimo publicado no dia 02/12, hoje abordarei mais duas tecnologias que ainda existem, mas, devido a questões práticas, não fazem mais sentido e certamente morrerão nos próximos anos. 

Quando o telefone foi inventado em 1870 por Alexander Graham Bell (1847-1922), estava claro que aconteceria uma revolução nas comunicações. O telefone fixo (residencial ou comercial), além de inspirar poesias, canções e célebres cenas do cinema e da televisão, teve uma enorme importância para a economia do século XX. A possibilidade de encurtar distâncias promovendo a rápida comunicação a um custo relativamente baixo alterou a maneira como as empresas e pessoas faziam negócio e se relacionavam. Com a chegada da internet, a linha de telefone fixo ganhou uma nova importância: sem ela, não era possível conectar-se à grande rede. Entretanto, com a chegada da conexão “banda larga” e da telefonia móvel, que começaram a se popularizar no fim dos anos 1990, o telefone fixo começou a se tornar irrelevante.

 No Brasil, o número de linhas fixas ativas diminui a cada ano. Um estudo do Instituto de Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) realizado em 2016 mostrou que em 60,9% dos lares brasileiros havia somente o telefone móvel como serviço de telefonia. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostrou que o ano de 2018 iniciou com 1,2 milhões de linhas de telefone fixo a menos em relação a 2017. Isso quer dizer que as pessoas já começaram a perceber que o telefone fixo é desnecessário e representa um gasto a mais no orçamento familiar. Pergunta: quando foi a última vez que você recebeu ou fez uma ligação do seu telefone fixo? Sob o ponto de vista prático, o telefone fixo residencial não faz mais sentido, visto que os smartphones estão totalmente integrados ao nosso cotidiano. Ademais, os diversos aplicativos que possibilitam ligações por meio da internet são capazes de reduzir drasticamente o custo com ligações. Enfim, acredito que os telefones fixos fazem sentido apenas para empresas e organizações, que necessitam de um contato telefônico fixo e móvel. 

“O telefone fixo e o motor a combustão podem ser considerados dois símbolos da tecnologia e do progresso do século XX. Entretanto, por questões práticas, são duas tecnologias que cairão em desuso num futuro próximo”

Uma outra tecnologia que moveu o mundo no século passado, mas não faz mais sentido, é o motor a combustão interna, responsável por mover os veículos convencionais. Além de questões que envolvem sustentabilidade e meio ambiente, esse tipo de motor não faz mais sentido se considerarmos a gama de tecnologias que temos à disposição para a fabricação de carros elétricos. Apesar de diversas isenções de impostos para incentivar esse novo mercado nos EUA, modelos populares de carros elétricos não saem por menos de U$35.000,00. Se alguns desses modelos fossem importados para o Brasil, o valor chegaria a R$200.000,00, totalmente fora da nossa realidade. 

Obviamente, com a produção em massa e a substituição de materiais raros usados nos componentes por materiais mais abundantes, os custos de produção e venda tendem a diminuir. A Volvo, tradicional montadora sueca, já anunciou que a partir de 2019 não fabricará mais carros com motor exclusivamente a combustão. Apenas híbridos e elétricos deverão sair de suas fábricas. As chamadas “montadoras de massa”, como a Volkswagen, que vendem 10 milhões de veículos por ano, já anunciaram ousados projetos que significam a iminente interrupção da fabricação de motores exclusivamente a combustão. Ao que tudo indica, em um futuro próximo, estaremos como a Noruega, em que metade do total de sua frota (cerca de 200 mil automóveis) usam eletricidade: 31,8% de híbridos e 17,6% completamente elétricos. 

O telefone fixo e o motor a combustão podem ser considerados dois símbolos da tecnologia e do progresso do século XX, considerado por muitos como o “século da ciência”. Entretanto, como os avanços científicos e tecnológicos não param, muito em breve serão apenas de peças de museu, dando lugar a outras tecnologias que serão substituídas por outras em um ciclo sem fim. 


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 16/12/2018.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!