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Formar profissionais descartáveis pode comprometer o futuro do país

Formar profissionais descartáveis pode comprometer o futuro do país

As transformações das profissões e o futuro do trabalho na atual sociedade da informação têm sido um tema recorrente não apenas nesta coluna. De fato, basta uma rápida pesquisa em sites especializados em carreira e tecnologia para encontrar artigos e entrevistas com profissionais e pensadores alertando sobre os impactos sociais da automação do emprego e como isso está afetando (e afetará) as profissões e, consequentemente, toda a sociedade.

Os robôs dotados de Inteligência Artificial (IA) já estão substituindo parcial ou totalmente muitas das tarefas repetitivas outrora executadas exclusivamente por seres humanos, principalmente tarefas manuais. As grandes fábricas, que no passado eram grandes geradoras de emprego, caminham para um futuro em que serão totalmente automatizadas. Assim, países em desenvolvimento que atraíam fábricas pelo seu baixo custo de mão de obra sofrerão um duro golpe, visto que muitas das indústrias dos países desenvolvidos certamente repatriarão suas linhas de produção objetivando redução de custos e mais eficiência na produção e na logística. Da mesma maneira, regiões industrializadas no Brasil, consideradas grandes geradoras de empregos, deverão sofrer grandes mudanças.

Segundo muitos especialistas, no futuro, até mesmo tarefas cognitivas, isto é, que envolvem capacidade intelectual, criatividade e improvisação, deverão ser substituídas por máquinas, tornando-nos irrelevantes em certo grau. Entretanto, esse futuro um tanto apocalíptico pode demorar, pois há quem diga que hoje devemos pensar em uma abordagem Humanos + IA e não Humanos versus IA. Assim, teremos a garantia (ou não) de continuarmos relevantes no futuro, visto que a capacidade criativa, o julgamento e a improvisação são características inerentes ao ser humano, muito difíceis de serem reproduzidas por máquinas.

Nesse contexto, em um futuro não muito distante, os governos terão que lidar com um número ainda maior de desempregados. E o pior é que talvez não haja programa de criação de emprego, nem plano econômico que sejam capazes de resolver o problema, sendo necessário que se adote um sistema de “renda básica universal” a fim de prover o sustento para essas pessoas. Elon Musk (CEO da Tesla), Chris Hughes (um dos diretores do Facebook) e Angus Deaton (prêmio Nobel de economia) defendem essa ideia.

Diante desse cenário, de um futuro que já não é mais hipotético, muitas das profissões atuais irão sofrer grandes mudanças. Obviamente muitas delas simplesmente desaparecerão, enquanto outras que sequer imaginamos deverão surgir. Portanto, há urgência em olhar para a formação profissional, considerando as rápidas mudanças da economia e da indústria atuais, algo que nunca foi visto antes na história. Para uma simples comparação, o automóvel demorou cerca de cinquenta anos para se difundir e se consolidar no mundo como uma tecnologia confiável. A internet levou apenas oito.

Portanto, construir escolas e faculdades, além de fazer propaganda política com números espetaculares que muitas vezes apresentam critérios duvidosos, não é suficiente formar cidadãos que não dependerão de uma renda básica universal provida pelo Estado. É necessário que órgãos públicos e privados incentivem uma formação completa e integrada, do ensino infantil até o superior, objetivando formar cidadãos preparados para o mundo que está por vir. A inovação, a curiosidade, a imaginação e o pensamento crítico são elementos que normalmente são subutilizados ou deixados de lado nos modelos educacionais tradicionais, mas certamente significam a sobrevivência em um mundo dominado por máquinas. Precisamos parar de formar profissionais descartáveis, que se tornarão desnecessários nos próximos anos, e começar a formar profissionais preparados para o futuro e, principalmente, para o desconhecido. Para isso, é necessária uma completa revisão em nosso sistema educacional, e sinceramente, de maneira geral, não vejo o Estado devidamente engajado nessa missão.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 27/01/2019.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!