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Nenhuma tecnologia substitui o professor

Nenhuma tecnologia substitui o professor

A afirmação no título deste texto pode parecer um tanto presunçosa, principalmente se considerarmos que sou professor. Ademais, basta observar o histórico de empregos e profissões extintos pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC) para encontrar, quem sabe, um certo exagero nessa afirmação. Aqui, convém destacar que sou professor de tecnologia, o que (talvez) me credencia a fazer tal afirmação. Mas, será mesmo um exagero e pura presunção? Os professores são realmente insubstituíveis? Vejamos.

Uma postagem de novembro de 2016 no site do Instituto de Tecnologia do Estado da Georgia (Geogia Tech), nos EUA, apresenta um surpreendente relato sobre a utilização de uma tecnologia baseada em inteligência artificial (IA) que seria capaz de substituir, pelo menos parcialmente, a figura do professor.

Na ocasião, o professor do curso de Ciência da Computação, Ashok Goel, coordenou o desenvolvimento de Jill Watson, um robô virtual que analisava e respondia às perguntas do fórum de discussão dos alunos. Goel incluiu o nome Jill Watson como membro assistente de sua equipe, criando o cenário perfeito para que os alunos interagissem com o robô sem perceber que não se tratava de uma pessoa. A taxa de respostas corretas dadas por Jill, cerca de 97%, dificultava ainda mais essa percepção, até que os alunos resolveram fazer perguntas fora do contexto e fora do horário, o que “desmascarou” Jill.

Apesar de a tecnologia usada ter demonstrado grande eficiência, ela precisou ser “treinada”, ou seja, foi necessário que o ser humano “ensinasse” padrões e como inferir fatos por meio de algoritmos (instruções), o que possibilitou a evolução e o aprendizado automático de Jill. Além disso, a rigidez semântica e estrutural das respostas fez com que novas versões da tecnologia fossem desenvolvidas, na esperança de colocar toques de empatia nas interações. Em síntese, Jill conseguiu imitar o comportamento humano até certo grau.

“…tentar equiparar-se em velocidade, eficiência e precisão a um robô é uma tarefa desmotivadora, impossível e até humilhante. Entretanto, é possível vencê-los, desde que levemos a guerra para outro território: a emoção”

De fato, os vídeos sobre Jill Watson, facilmente encontrados no Youtube nos canais oficiais do TED Taks e da Georgia Tech, são surpreendentes e nos fazem pensar se os professores são realmente insubstituíveis. Em um passado recente, acreditávamos que os robôs iriam sobrepujar apenas as profissões relacionadas a trabalhos manuais e repetitivos. Entretanto, observando o caso citado, temos a certeza de que muitos trabalhos que envolvem tarefas cognitivas estão sob ameaça.

Como afirma o escritor John Pugliano, na excelente e recomendada obra A chegada dos robôs (Madras, 2017), tentar equiparar-se em velocidade, eficiência e precisão a um robô é uma tarefa desmotivadora, impossível e até humilhante. Entretanto, é possível vencê-los, desde que levemos a guerra para outro território: a emoção.

Para Pugliano, “a criatividade não é racional. Ela não deriva da razão ou da lógica, mas da emoção. É a confluência do hemisfério esquerdo do cérebro, o racional, e do direito, o emocional”. Nesse sentido, o professor possui dois papéis em uma educação iminentemente tecnológica: criar e cuidar. Um robô pode até responder perguntas aos alunos, mas não é capaz de criar conteúdo sem antes ter sido preparado e instruído por um ser humano por meio de uma ou mais linguagens computacionais. Um robô pode até ajudar os alunos a obter conhecimento, mas só um professor é capaz de se conectar emocionalmente com a sala de aula no sentido de adequar diferentes dinâmicas e estratégias de ensino. Ademais, só o professor, não o robô, com seu toque humano, é capaz de motivar o aluno para desenvolver o melhor de suas capacidades, que, muitas vezes, são imperceptíveis, inclusive para o próprio aluno.

Como professor de tecnologia, vejo um futuro em que os professores usarão as TICs para auxiliá-los nas aulas e nas diversas tarefas extraclasse concernentes à profissão. Vejo fusão e adaptação, mas nunca substituição. “Diga-me, e eu ouvirei; ensina-me, e eu lembrarei; envolva-me, e eu aprenderei” (Benjamin Franklin).


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 17/05/2020

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!