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O fim do marketing

O fim do marketing

O marketing pode ser definido como um processo que atrai, converte e fideliza clientes por meio da geração de valor sobre um produto, serviço ou marca. Podemos dizer que seu objetivo final é satisfazer as necessidades do cliente, mesmo que ele não saiba exatamente do que precisa. Citando o saudoso Steve Jobs, criador da Apple e uma das figuras mais emblemáticas do empreendedorismo e da tecnologia, “As pessoas não sabem o que querem até mostrarmos a elas”. Assim, o marketing é capaz de criar relacionamentos poderosos, capazes de gerar lucro.

Com o advento da era da internet, o marketing sofreu diversos impactos positivos, transformando totalmente as velhas práticas offline. Com o poder de analisar o comportamento dos usuários da grande rede, primeiro nos sites, depois nas redes sociais e, mais recentemente, nos aplicativos móveis, os profissionais da área estão agora munidos de ferramentas “mágicas”.

A magia dessas ferramentas consiste em aplicar algoritmos e processos sistematizados que transformam o caos dos dados dos usuários em informações organizadas e reveladoras, capazes de fornecer insights para a criação de poderosas estratégias de publicidade digital. Assim, o novo marketing, o marketing digital, é considerado o “Santo Graal” das organizações que buscam a sobrevivência e a competitividade na era da informação.

O tempo passou, e a alvorada da terceira década do século XXI trouxe consigo uma série de inovações e promessas que surpreenderiam até mesmo Isaac Asimov (um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos), tudo catalisado pela grande rede e seus elementos subjacentes de culto ao capitalismo.

“as empresas de tecnologia […] esperam automatizar as escolhas que fazemos ao longo dos dias, quer sejam decisões grandes, quer sejam pequenas. São seus algoritmos que recomendam as notícias que lemos, os bens que compramos, o caminho que pegamos e os amigos que trazemos para perto”

Franklin Foer

O software, considerado por muitos a tecnologia definitiva, ganhou status de entidade inteligente, e até mesmo divina, enquanto o hardware se tornou o agente receptor e materializador de uma “inteligência coletiva suprema”. Assim, surgiram os assistentes pessoais, capazes de responder a simples comandos de voz, executar ações e fornecer informações relevantes em tempo real aos seus usuários: “OK Google, como estará o clima amanhã em São Paulo?”, “E aí Siri! Me acorde amanhã às 7h da manhã”, “Alexa, apague as luzes do quarto!”.

Esses maravilhosos gadgets são muito mais do que “mordomos digitais”, visto que estão constantemente coletando informações sobre o nosso comportamento e enviando dados aos seus fabricantes. Segundo o jornalista Franklin Foer, em sua reveladora obra “O mundo que não pensa” (Editora Leya, 2019), “as empresas de tecnologia […] esperam automatizar as escolhas que fazemos ao longo dos dias, quer sejam decisões grandes, quer sejam pequenas. São seus algoritmos que recomendam as notícias que lemos, os bens que compramos, o caminho que pegamos e os amigos que trazemos para perto”.

“…o marketing não será mais necessário, visto que as grandes corporações saberão mais sobre nós do que nós mesmos”

Fazendo um exercício de futurologia, é possível imaginar um mundo em que o marketing não será mais necessário, visto que as grandes corporações saberão mais sobre nós do que nós mesmos. Bastará dizer, por exemplo, “Alexa, compre a melhor TV para o meu perfil de usuário”, que, considerando o tamanho da sua sala, o seu salário, dispositivos compatíveis e outras variáveis que sequer imaginamos, a assistente pessoal (Alexa) irá se conectar à loja da Amazon, selecionar a sua TV e efetuar o pagamento em apenas alguns segundos. A marca da TV pouco importa, desde que ela atenda a minhas necessidades. Isso significa que as pessoas deixarão de confiar nas marcas para confiar nos assistentes pessoais.

Esse será o fim do marketing como conhecemos. Mas também será o fim do livre arbítrio, se é que ainda somos senhores de nossas escolhas.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 06/09/2020

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!