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Programadores que não sabem programar

Programadores que não sabem programar

Em 2019, no período pré-covid, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Basscom) informou que o Brasil possuía um déficit anual de cerca de 24 mil profissionais de Tecnologia da Informação (TI). Formamos aproximadamente 46 mil profissionais anualmente, enquanto a demanda passa dos 70 mil.

Durante o ano de 2020, a pandemia acelerou o processo de transformação digital no Brasil e no mundo, aumentando ainda mais essa demanda. Segundo o Banco Nacional de Empregos (BNE), em 2020 houve um crescimento de 63% das vagas no setor. A Brasscom também informou que até 2024 poderemos criar cerca de 420 mil vagas.

Nesse contexto de escassez de profissionais qualificados, principalmente programadores, aliado à fuga de trabalhadores, que conseguem vagas home office para trabalhar em empresas do exterior, duas metodologias de criação de produtos digitais têm ganhado força nos últimos anos. Estamos falando dos conceitos de low-code (pouco código – em tradução livre) e no-code (sem código).

Como o nome sugere, as plataformas low-code oferecem um ambiente de desenvolvimento de aplicativos, games, sites e outros produtos digitais por meio de interfaces simples que consistem em arrastar e encaixar blocos de construção, como se estivéssemos “brincando de Lego”.

Cada bloco possui uma forma e um rótulo, além de ser a abstração de um elemento lógico de programação (variáveis, constantes, estruturas de decisão e repetição etc.). Assim, mesmo sem conhecimentos sobre programação, o profissional pode exercer sua criatividade e desenvolver sistemas, dos mais simples ao mais complexos. Nesse ambiente, os ajustes finais, ou refinamento, para que o protótipo se torne um produto ou serviço, ficam sob a responsabilidade de um desenvolvedor profissional.

“…as plataformas low-code oferecem um ambiente de desenvolvimento de aplicativos, games, sites e outros produtos digitais por meio de interfaces simples que consistem em arrastar e encaixar blocos de construção…”

J. L. Gregório

 O MIT AppInventor (appinventor.mit.edu), criado originalmente pela Google e mantido atualmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, da sigla em inglês), é uma plataforma do tipo low-code que está ajudando professores, alunos e entusiastas da tecnologia a criar seus experimentos em forma de aplicativos. No universo corporativo, é possível encontrar ferramentas como o Appian (appian.com), que permitem a construção de aplicações que atendem a modelos de processo de negócio.

Indo além, as plataformas no-code oferecem algo a mais: não exigem nenhuma linha de código. Isso significa que tudo pode ser feito por um profissional sem qualquer conhecimento em programação. Assim, até o processo de refinamento torna-se desnecessário, visto que essas ferramentas conseguem gerar um produto plenamente funcional. Ferramentas como o Pipefy (pipefy.com) permitem a construção de fluxos de trabalhos automatizados, integrando modelos de processos de negócios a interfaces gráficas e bancos de dados. Tudo criado sem nenhuma linha de código.

“…as plataformas no-code oferecem algo a mais: não exigem nenhuma linha de código. Isso significa que tudo pode ser feito por um profissional sem qualquer conhecimento em programação”

J. L. Gregório

Mas, e como ficam os programadores? Eles também serão substituídos por máquinas, assim como diversos profissionais que deverão perder seus empregos devido à automação em massa, segundo sugere a Indústria 4.0? Bem, vamos devagar!

Em primeiro lugar, essas plataformas são criadas por desenvolvedores altamente capacitados. Outra questão é que, dependendo da complexidade e das variáveis envolvidas no sistema proposto, desenvolvê-lo por meio de “ferramentas mágicas” não é a melhor solução, considerando as muitas nuances concernentes a algoritmos, arquitetura de sistemas e integrações com outros softwares e hardwares. Entretanto, é inquestionável que essas plataformas são promissoras e devam evoluir nos próximos anos.

Não acredito, pelo menos por enquanto, que tais plataformas vão solucionar o problema da escassez de programadores. Mas certamente podem ajudar a resolver parte do problema.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 03/10/2021.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!